Reunião em Teresina traça panorama da biofortificação no mundo

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Os participantes da IV Reunião de Biofortificação do Brasil tiveram um panorama do tema no mundo com as palestras do diretor geral do HasvestPlus, Howdy Bouis, do professor Xingen Lei, que atua no programa da China, do pesquisador Salomon Peres, do projeto AgroSalud, que promove a biofortificação na América Latina, e da pesquisadora Marilia Nutti, coordenadora dos projetos de biofortificação no Brasil.

Howdy Bouis traçou um histórico do programa no mundo. Segundo o pesquisador, a primeira fase do projeto trabalhou com batata-doce e mandioca ricas em pró-vitamina A, além de arroz e feijão com maiores teores de ferro. As cultivares foram introduzidas em países da África e da Ásia.
Entre os principais ganhos ele ressaltou o incremento entre 65% e 100% de vitamina A em populações de aldeias que adotaram variedades de batata-doce biofortificada. Outros resultados positivos citados pelo representante mundial do programa HasvestPlus foram a adoção de variedades de mandioca e milho com maiores teores de pró-vitamina A na Republica Democrática do Congo, Nigéria e em Zâmbia. A DR Congo, juntamente com Ruanda, também adotou um material de feijão mais rico em zinco. “Os resultados são encorajadores, mas ainda há muito que se fazer”, afirmou.
As atividades do programa, segundo disse, se dividiram em três frentes, o desenvolvimento de novas cultivares, inclusive com a utilização de ferramentas como a transgenia e o melhoramento assistido, com a utilização de marcadores moleculares, análises econômicas dos produtos, que passam pelo custo-benefício, difusão e impactos, além da comunicação.
O pesquisador ressaltou que, em 2009, o programa entrou em uma segunda fase, com a introdução das culturas da batata, sorgo, banana e lentilha. Está etapa, com atividades previstas até 2013, conta com recursos da ordem de US$ 120 milhões, tendo como principais fontes a Fundação Gates, o governo do Canadá e o Banco Mundial.

Futuro
Howdy Bouis disse que há exemplos de sucesso que demonstram o impacto do programa em saúde pública. Entretanto, a equipe continuará buscando mais evidências que demonstrem a eficiência do melhoramento genético para geração de produtos com mais minerais e vitaminas.
O pesquisador destacou o trabalho brasileiro. Na opinião dele, o futuro de biofortificação está no País. “O Brasil está à frente: trabalhando com várias cultivares, o programa possui visibilidade, há políticas públicas que permitem a adoção das tecnologias e fontes de recursos diversificadas para o financiamento das atividades.”

Situação da biofortificação na China é apresentada em reunião

O pesquisador Xingen Lei, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, apresentou um panorama do HasvestPlus na China. Segundo ele, a primeira fase do programa foi realizada entre 2005 e 2009 e trabalhou com arroz, trigo, milho e batata-doce.
O pesquisador ressaltou que a China apresenta diversos problemas de nutrição. De acordo com ele, 16% da população tem anemia, 45% possui deficiência de vitamina A, 40% de cálcio e cerca de 15% apresenta déficit de crescimento. “Há estudos que apontam que a má nutrição custa entre 3% e 4% do PIB chinês, cerca de 3,61 bilhões de dólares”, afirmou.
Como resultados, Xingen Lei destacou a liberação de duas cultivares de trigo ricas em ferro e zinco. Também foram lançadas duas variedades de batata-doce com maiores teores de pró-vitamina A, avaliadas na alimentação escolar de crianças entre três e dez anos, observando-se impactos positivos no estado nutricional dessas crianças avaliadas, conforme afirmou o pesquisador.
O programa chinês também conta com cultivares de trigo com elevado teor de zinco e arroz mais rico em ferro, que deverão ser lançados nos próximos anos. Além disso, a edição chinesa do HarvestPlus está trabalhando no desenvolvimento de produtos processados de batata-doce, avaliação de impactos e estudos de biodisponibilidade.

Biofortificação na América Latina
O representante do programa AgroSalud, Salomon Peres, abordou em sua palestras os avanços do programa na América Latina. Em 2005, o programa teve inicio com o desenvolvimento de cultivares de feijão e arroz ricos em ferro, milho com melhor qualidade proteica e batata-doce, com mais pró-vitamina A.
Ele disse que o AgroSalud liberou 43 cultivares e conta com outras nove em fase de liberação. Esse material é distribuído para produtores, que também recebem treinamento.
Em 2011, o AgroSalud estabeleceu uma parceria com o Grupo Consultivo para Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) para obtenção de recursos financeiros qua vão garantir mais cinco anos de trabalho. Para esse período, estão previstas atividades de melhoramento, com o lançamento de mais 37 cultivares e ampliação da escala de produção de sementes.

Biofortificação no Brasil

A pesquisadora Marilia Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro-RJ) a rede de trabalho com biofortificação no País. Segundo ele, a iniciativa envolve três projetos (AgroSalud, HarvestPlus e Biofort) e conta atualmente com uma equipe multidisciplinar com mais de cem pessoas.
O projeto envolve 11 centros de pesquisa da Embrapa, além de outras instituições de pesquisa para desenvolver cultivares com melhor conteúdo nutricional em oito culturas: trigo, batata-doce, milho, arroz, feijão, feijão-caupi, abóbora e mandioca.

Desde 2005, quando as atividades começaram no Brasil, foram lançadas ou recomendas dez cultivares de mandioca, feijão-caupi, batata-doce, entre outras, com maiores teores de ferros, zinco e pró-vitamina A. Além disso estão sendo desenvolvidos produtos processados.

Sobre a adoção dos produtos, Marília Nutti informou que estão sendo realizados testes de aceitabilidade no interior do Maranhão e do Sergipe; no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, além de Minas Gerais, onde Unidades Demonstrativas com produtos biofortificados em parceria com 11 prefeituras, quatro escolas técnicas e um assentamento do estado. A pesquisadora também destacou a parceria com a PepsiCo para desenvolvimento de produtos com milho, batata-doce e trigo biofortificados.
O próximos passos do programa, segundo Marília Nutti, devem contemplar atividades de gestão, visando a inserção dos produtos biofortificados em políticas públicas que viabilizem a sua disseminação, além do fortalecimento de ações de Transferência de Tecnologia e avaliação de impacto social, econômica e nutricional.

Marcos Esteves – jornalista
Embrapa Hortaliças