Perguntas Frequentes

A biofortificação consiste em um processo de cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivos. O processo também é conhecido como melhoramento genético convencional.

Não. No melhoramento genético convencional uma planta é cruzada com outra da mesma espécie, não ocorrendo incorporação de genes de outro organismo ao genoma da planta, sendo necessário a realização de repetidos cruzamentos até atingir o cultivar melhorado desejado. Somente na transgenia ou engenharia genética é que se incorporam genes de outro organismo no genoma da planta.

A Rede BioFORT é coordenada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), reunindo todos os projetos de biofortificação de alimentos no Brasil. O principal objetivo é garantir uma maior segurança alimentar através do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente, combatendo assim a fome oculta. A essência está em enriquecer alimentos que já fazem parte da dieta da população para que esta possa ter acesso a produtos mais nutritivos e que não exijam mudanças de seus hábitos de consumo.

Fome oculta é o termo utilizado para designar a carência de micronutrientes no organismo de uma pessoa. A fome oculta assola uma em cada três pessoas no mundo.

Para atingir os resultados esperados, o BioFORT congrega mais de 150 pessoas em diferentes áreas do conhecimento e em 14 Estados brasileiros. A rede interage com universidades, centros de pesquisa nacionais e internacionais, associações de produtores, governo, prefeituras e organizações não-governamentais. A rede tem apoio do programa HarvestPlus, uma aliança de instituições de pesquisa que atuam na América Latina, África e Ásia com recursos financeiros da Fundação Bill e Melinda Gates, Banco Mundial e agências internacionais de desenvolvimento. Conta ainda com projetos financiados pela Embrapa, CNPq, e diversas fundações estaduais de suporte a pesquisa (FAPERJ, FAPESP, FAPEMIG). A pesquisa e o desenvolvimento de alimentos biofortificados no Brasil evidenciam um aspecto diferenciado dos demais países – o Brasil é o único onde são conduzidos, ao mesmo tempo, trabalhos com oito culturas diferentes: abóbora, arroz, batata-doce, feijão, feijão-caupi, mandioca, milho e trigo.

A Rede BioFORT atua faz cerca de 10 anos no Brasil.

Dezesseis centros de pesquisa da Embrapa fazem parte da Rede BioFORT, são eles:

  • Embrapa Agroindústria de Alimentos
  • Embrapa Arroz e Feijão
  • Embrapa Cocais
  • Embrapa Hortaliças
  • Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
  • Embrapa Meio-Norte
  • Embrapa Milho e Sorgo
  • Embrapa Semiárido
  • Embrapa Tabuleiros Costeiros
  • Embrapa Trigo
  • Embrapa Transferência de Tecnologia
  • Embrapa Cerrados
  • Embrapa Clima Temperado
  • Embrapa Pantanal
  • Embrapa Amazônia Oriental
  • Embrapa Produtos e Mercados

Também integram essa aliança, quatro unidades centrais da Embrapa Sede, em Brasília, são elas:

  • Departamento de Transferência de Tecnologia
  • Secretaria de Comunicação da Embrapa
  • Secretaria de Negócios da Embrapa
  • Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa

A deficiência de micronutrientes como ferro e zinco e de vitamina A constituem sérios problemas de saúde pública nos países em desenvolvimento. Dietas com escassez de ferro e zinco podem ocasionar anemia, redução da capacidade de trabalho, problemas no sistema imunológico, retardo no desenvolvimento e até a morte. A anemia ferropriva é, provavelmente, o mais importante problema nutricional no Brasil. As fontes mais importantes de ferro para a população brasileira são feijão e carnes vermelhas. Embora a deficiência de zinco não seja tão estudada como a de ferro, considerando-se que os alimentos fonte destes dois nutrientes são os mesmos (sabe-se que fontes ricas em ferro biodisponível também são ricas em zinco biodisponível), é de se esperar uma alta incidência também para esta deficiência. A vitamina A é um micronutriente essencial para o bom funcionamento da visão e do sistema imunológico do organismo humano, sendo que sua deficiência tem provocado a cegueira em milhares de crianças no mundo. Depois das crianças, as mães, as lactantes e os idosos são as principais vítimas da desnutrição.

A fome oculta é responsável por debilitar mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Segundo os últimos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 48% das crianças no mundo com menos de cinco anos de idade apresentam anemia (deficiência de ferro) e 30% possuem deficiência em vitamina A. No Brasil, os números também são altos, tendo 55% das crianças com menos de cinco anos de idade apresentando deficiência de ferro e 13% com deficiência em vitamina A.

A estratégia atual para combater a desnutrição nos países em desenvolvimento tem como enfoque o fornecimento de suplementos vitamínicos e minerais para mulheres grávidas e crianças, além da fortificação de alimentos. Entretanto, a biofortificação faz sentido como parte de um enfoque que considere um sistema alimentar integrado para reduzir a desnutrição. A biofortificação ataca a raiz do problema da desnutrição, tem como alvo a população mais necessitada, utiliza mecanismos de distribuição já existentes, é cientificamente viável e efetiva em termos de custos, além de complementar outras intervenções em andamento para o controle da deficiência de micronutrientes. É, em suma, um primeiro passo essencial que possibilitará que famílias carentes melhorem de uma maneira sustentável, sua nutrição e saúde.

O processo de biofortificação nunca esteve sendo apresentado como a única solução para se melhorar a nutrição. Ela se configura como um complemento para reforçar outras alternativas de alimentação rica e saudável, como a fortificação e a suplementação.

A vantagem de consumir o alimento biofortificado é que as concentrações não são tóxicas ou cumulativas e os indivíduos passam a não ter de usar medicamentos para solucionar o problema nutricional (ex: distribuição de cápsulas de vitamina A e sulfato ferroso). Essa distribuição, além de ser de elevado custo, nem sempre é eficiente onde o sistema de saúde é precário. Em longo prazo, o consumo de alimentos biofortificados permite que a deficiência nutricional vá sendo reduzida e as consequências da falta do nutriente sendo prevenida.

No campo, as cultivares são selecionadas e as mais promissoras seguem para a etapa de melhoramento. Nessa etapa, o objetivo é a obtenção de cultivares mais nutritivas, que também apresentem boas qualidades agronômicas (produtividade, resistência à seca, pragas e doenças), além de boa aceitação de mercado. Ao mesmo tempo, nos laboratórios da Embrapa e das universidades vinculadas ao projeto, estão sendo iniciados os estudos sobre biodisponibilidade para estimar se o organismo humano consegue absorver os micronutrientes presentes nas cultivares melhoradas. Com o aval dos Comitês de Ética das universidades, os pesquisadores estão avaliando a aceitação aos alimentos mais nutritivos, como em Sergipe, onde mandioca, batata-doce e feijão-caupi já estão sendo testados na merenda escolar. Outras equipes do projeto buscam o desenvolvimento de produtos com maior valor agregado (pães, snacks e farinhas pré-cozidas para sopas instantâneas e mingaus), que ampliam a oferta de alimentos mais nutritivos. Outra etapa igualmente importante é o desenvolvimento de soluções tecnológicas para a conservaçao dos micronutrientes. Por isso, através de parcerias, o BioFORT trabalha no desenvolvimento de embalagens para, principalmente, garantir a conservação dos micronutrientes nos produtos processados.

A batata-doce biofortificada tem provocado um aumento significativo do consumo de Vitamina A entre mulheres e crianças de Moçambique e Uganda. Para crianças de 6 à 35 meses, a vitamina A provinda da batata-doce biofortificadas corresponde a 78% do total de vitamina A consumida em Moçambique. Estudos também mostraram um aumento dos níveis de vitamina A no sangue. Uma porção (equivalente a uma bola de sorvete) de batata-doce biofortificada pode suprir a quantidade necessária de vitamina A que uma criança de 5 anos precisa em um dia.

Outros dados revelam os benefícios encontrados pelas mulheres de Benim (África). Menos de 160 gramas de farinha de milho muído rica em ferro é suficiente para conferir às mulheres beninenses com idade entre 18-45 anos mais de 70% da capacidade diária necessária de ferro.

São avaliadas as dimensões de receptividade dos produtores nas comunidades rurais em relação as novas cultivares, os ganhos nutricionais, a aceitabilidade pelo consumidor, as vantagens agronômicas e comerciais.

O projeto se preocupa com todo processo de alimentação do cidadão, desde o momento em que o alimento é produzido até a mesa do consumidor. Com esse intuito, considera e analisa a receptividade dos produtores nas comunidades rurais em relação as novas cultivares. Para isso é importante que as novas cultivares, além dos ganhos nutricionais, apresentem vantagens agronômicas e comerciais. É imprescindível que os alimentos da biofortificação tenham boa aceitação entre os consumidores e seus nutrientes estejam biodisponíveis para que os objetivos do projeto sejam alcançados. Dessa maneira, será possível para a população de baixa renda ter acesso a uma alimentação mais nutritiva de forma sustentável e com baixo custo. Outro ação do BioFORT é o desenvolvimento de produtos agroindustriais a partir de matérias-primas biofortificadas. Na Embrapa Agroindústria de Alimentos, por exemplo, os pesquisadores testaram a formulações de farinhas de batata-doce na composição de pães, biscoitos, massas, snacks e sopas instantâneas. Ao mesmo tempo, tem-se pesquisado a formatação de novas embalagens capazes de conservar os micronutrientes por mais tempo.

A equipe promove com frequência eventos como palestras, seminários e dias de campo para produtores rurais, empresários e pesquisadores. Os principais resultados e atividades do projeto são motivo de matérias na mídia (rádio, TV, jornais, revistas e internet) e isso tem contribuído para o estabelecimento de novas parcerias, na transferência de tecnologia e na conquista da empatia de formadores de opinião.

Uma questão importante no processo de produção, especialmente de materiais biofortificados, é a qualidade do material de propagação. A recomendação é de que se usem sementes ou mudas certificadas. Isso porque é importante que sejam asseguradas as suas qualidades genéticas e fitossanitárias.

O uso de material próprio de propagação, multiplicado pelo produtor a partir de sementes certificadas é permitido pela legislação. Entretanto, para que sejam mantidas as características originais, é preciso que sejam seguidas regras específicas para cada espécie, o que pode ser difícil no caso de pequenos agricultores, como isolamento geográfico ou época de produção. Dessa forma, mesmo que o produtor guarde parte de sua produção para uso no plantio na safra seguinte, recomenda-se que sejam adquiridas sementes e mudas certificadas periodicamente. O período para renovação desse estoque depende da espécie e das condições de cultivo nas áreas de produção. Para materiais de propagação vegetativa, como mandioca e batata-doce, a questão fitossanitária é a mais relevante e especial atenção deve ser dada para que a produtividade do material não seja perdida ao longo de sucessivas multiplicações sem renovação do material de propagação. No caso de milho, espécie de polinização aberta, a proximidade geográfica e temporal com outras cultivares irá propagar características genéticas de outras espécies à produção, inviabilizando seu uso como semente na safra seguinte.

República Democrática do Congo, Bangladesh, Índia, Nigéria, Paquistão, Ruanda, Uganda, Zâmbia, Panamá, Nicarágua, Guatemala, Colômbia e Haiti. A Rede BioFORT colabora com o trabalho que está sendo realizado nesses países através do intercâmbio de conhecimentos.

Alguns cultivares, como a batata-doce, já atingiram seu potencial total de nível de pró-vitamina A, outros irão atingir nos próximos anos, como o feijão rico em ferro de Ruanda e Congo. Espera-se que todos os cultivares do projeto venham atingir 100% do incremento de minerais e vitaminas até 2018. Entretanto, todas as variedades disponíveis já conseguem provir benefícios nutritivos significativos. Lançar a primeira e a segunda geração de espécies em vez de esperar um alcance completo do potencial nutritivo, permite ganhar uma valiosa experiência para melhor entender as oportunidades e os desafios relacionados com a adoção desses novos cultivares pelos produtores e consumidores.

Cultivares biofortificados com esses níveis já atingidos de nutrientes como zinco, ferro e vitamina A devem conferir às gestantes e as crianças entre 4-6 anos de idade um adicional de 30-50% da média diária requerida, dependendo dos padrões do cultivar e do consumo.

Os cultivares biofortificados vêm para serem alternativas aos cultivares convencionais com relação ao mercado de consumo. Além de possuírem altos índices de produtividade são também caracterizados como de fácil adaptação, possuindo bons resultados de colheita, com safras acimas da média mesmo enfrentado adversidades tais quais chuva, seca, doenças e etc…

Dois estudos, um publicado no British Journal Nutrition (2011) e o outro no Journal of Nutrition (2012), conferiram que nas áreas onde a biofortificação já chegou, 68% das famílias em Moçambique e 61% das famílias em Uganda adotaram a batata-doce biofortificadas. Além disso, a área de produção de batata-doce dedicada à batata-doce biofortificadas cresceu de 9% para 44% em Uganda.

De acordo com as experiências envolvendo o consumo dessas novas variedades, os consumidores têm preferido os alimentos biofortificados, especialmente as crianças. Isso se explica, por apresentarem um gosto mais doce e mais macio. A coloração característica de cada um também vem se mostrando outro atrativo. Os estudos também apontam que, uma vez que os consumidores acabam por saber da quantidade rica de micronutrientes presentes nos biofortificados, eles tendem a ficar mais dispostos a consumir esses alimentos.

A Rede BioFORT tem procurado levar ao nordeste os cultivares que melhor se adaptam ao tipo de solo e a forte seca da região. Culturas como feijão-caupi, mandioca e batata-doce são os preferidos entre os consumidores e produtores. De acordo com as experiências conferidas no campo, plantios de culturas como a batata-doce vêm se mostrando altamente produtivos em virtude do grande diferencial inovador de transferir a tecnologia, pois utiliza-se o principio da Segurança Produtiva.

É o conjunto de medidas necessárias a redução dos riscos de perda de produção e que possibilitem ao pequeno produtor rural produzir seu próprio alimento com garantia de colheita. Desenvolveu-se assim uma nova metodologia com base em pequenas áreas irrigadas por gotejamento ou outros sistemas com baixo consumo de água, para serem implantadas principalmente no Semiárido brasileiro, com aplicabilidade em qualquer situação em que o pequeno produtor não possua as condições mínimas para garantir êxito em seus sistemas produtivos.

Piauí é o estado com maior número de parcerias formadas, desenvolvendo ações em conjunto com Escolas Famílias Agrícolas (EFA’s), empresas de assistência técnica e prefeituras. Atualmente a Rede BioFORT está presente com os cultivares biofortificados nos seguintes municípios: Pedro II; Teresina; São Miguel do Tapuio; José de Freitas; São João da Varjota; Santo Inácio; Oeiras; Cajazeiras do Piauí; Paes Landim; Cristino Castro; São Francisco; Pimenteiras. Hoje esses alimentos já beneficiam cerca de 3.000 jovens.

As Escolas Família Agrícolas são caracterizadas por utilizar o método da alternância. Os estudantes passam 15 dias em regime de internato na instituição de ensino agregando conhecimentos gerais e técnicos voltados para a realidade agrícola. Nos outros 15 dias do mês, eles retornam ás suas respectivas propriedades rurais, onde exercem na prática o conhecimento adquirido.

Em Sergipe, na cidade de Aracaju, vem ocorrendo testes sensoriais e ações educativas em três creches filantrópicas que participam como parceiras. Ao todo já foram beneficiadas 300 crianças com as ações de educação nutricional.

Até o momento mais de 4.500 crianças foram beneficiadas com os alimentos biofortificados.

Atualmente as cidades de Itaguaí e Magé já recebem cultivares biofortificados, como por exemplo, a batata-doce e o feijão. Em Itaguaí, as ações estão concentradas na alimentação escolar a partir do apoio da prefeitura, que realiza o plantio e colheita das culturas para serem repassadas as escolas, algumas dessas instituições, inclusive, já são responsáveis por plantarem os próprios cultivares biofortificados, uma maneira de integrar os alunos na agricultura familiar. Em Magé, a prefeitura repassa as sementes e ramas para os agricultores familiares que assim realizam a multiplicação do produto.