Otimismo na dose certa contra a desnutrição

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A trajetória do engenheiro agrônomo Maurisrael Rocha, de 43 anos, como pesquisador, traz a marca do otimismo. Ele está trabalhando para a redução da fome oculta de milhões de pessoas que sobrevivem nos rincões do Nordeste brasileiro. E foi com esse objetivo que o pesquisador abraçou o desafio de participar ativamente do Projeto de Biofortificação, que é coordenado no Brasil pela Embrapa.

Como toda história de sucesso em projetos com foco social, a de Maurisrael Rocha também recebeu um sopro de entusiasmo. “A minha participação no programa de biofortificação no Brasil começou em 2006, no Congresso Nacional de Feijão-Caupi, realizado em Teresina. No evento, conheci os pesquisadores Marília Nutti e José Luis Carvalho, que convidaram a equipe do feijão-caupi a integrar o projeto internacional de biofortificação, o HarvestPlus”, lembra.
Aceito o desafio, a primeira ação dele foi introduzir genótipos de feijão-caupi, reconhecidamente ricos em ferro e zinco, como padrões nas primeiras avaliações. Na empreitada, Maurisrael Rocha recebeu o apoio do pesquisador norte-americano B.B. Singh, uma das maiores autoridades do mundo em melhoramento de feijão-caupi, que cedeu duas linhagens ricas em ferro e zinco, desenvolvidas pelo International Institute of Tropical Agriculture, sediado em Ibadan, na Nigéria.
Um ano depois, 42 genótipos, que compreendiam cultivares e linhagens elites com alta produtividade e adaptabilidade às regiões produtoras, foram avaliadas. “Desses – lembra o pesquisador – os 10 genótipos com teores mais altos de ferro e zinco foram validados em experimentos nos estados do Piauí, Maranhão e Sergipe”. O resultado da seleção de linhagens resultou no lançamento das cultivares BRS Xiquexique, com 77 miligramas de ferro por quilo e 53 miligramas de zinco por quilo; e a BRS Tumucumaque, com 60 miligramas de ferro por quilo e 52 miligramas de zinco por quilo.
Em seis anos de intenso trabalho, segundo o pesquisador, já foram avaliados pelo menos 200 populações de feijão-caupi – cultivares, linhagens e progênies -, além de 14 genótipos ricos em ferro e zinco, validados em multiambientes; três cultivares transferidas e realizados oito cruzamentos entre genótipos biofortificados. As populações avaliadas são altamente promissoras, com variações de 30 a 63 miligramas de zinco por quilo e de 37 a 102 miligramas de ferro por quilo.
Empolgado com o avanço do projeto, que no plano de ação da Embrapa Meio-Norte é denominado Biofortificação do feijão-caupi no Brasil, Maurisrael Rocha mira longe. “A meta nos próximos anos é lançarmos cultivares com pelo 60 miligramas de zinco por quilo e 80 miligramas de ferro por quilo”, projeta. Ele acredita que a meta será cumprida, apontando para o trabalho integrado da equipe de pesquisadores e assistentes como um dos pontos de equilíbrio para o sucesso das pesquisas.
Abrindo trilhas
Mas como ninguém acorda pronto para brilhar na profissão, Maurisrael Rocha percorreu um longo caminho até chegar aonde está. Primeiro filho de uma família de três irmãos, ele nasceu no minúsculo município de Bocaina, que tem uma população de pouco mais de 4 mil habitantes e distante 324 quilômetros a sudeste de Teresina. Ao despertar para vida, ele seguiu para o município mais próspero da região, Picos, que fica a 22 quilômetros de Bocaina, e lá, fez até o ensino médio.
Vidrado em agricultura, Maurisrael partiu para Teresina onde se formou em engenharia agronômica na Universidade Federal do Piauí. Depois, ele saiu abrindo trilhas de sucesso: fez mestrado e doutorado em genética e melhoramento de plantas pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo; e é hoje pesquisador e coordenador da Rede Nacional de Melhoramento de Feijão-Caupi da Embrapa.
Para entender melhor o entusiasmo do pesquisador piauiense é preciso mergulhar nas siglas dos dois programas de biofortificação. Vejamos: HarvestPlus é o programa ou aliança mundial de pesquisa e entidades executoras que se uniram para melhorar e disseminar produtos agrícolas que contribuam para uma melhor nutrição humana.
Ele é coordenado pelos International Center for Tropical Agriculture –CIAT, que tem sede em Cáli, na Colômbia; e o Internacional Food Policy Research Institute-IFPRI, sediado em Washington, nos Estados Unidos. O programa é financiado por instituições como a Fundação Bill e Melinda Gates e Banco Mundial, com aporte de recursos na ordem de US$ 50 milhões para 4 anos.
O BioFort é o programa de biofortificação brasileiro, que trabalha culturas alimentares básicas, como abóbora, batata-doce, arroz, mandioca, trigo, feijão comum e feijão-caupi. O programa é coordenado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, que tem sede no Rio de Janeiro. As pesquisas são financiadas pelo Fundo Embrapa-Monsanto. O orçamento para 3 anos é de R$ 1 milhão.

Fernando Sinimbu
Jornalista da Embrapa Meio-Norte
Registro 654 MTb
(86) 3089-9118
fernandosinimbu@cpamn.embrapa.br
Teresina – Piauí