Plantar para nutrir, inovar para desenvolver

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Refletindo sobre a incondicional certeza dita por Neil deGrasse Tyson, ao classificar a inovação em ciência e tecnologia como o motor mais eficiente de crescimento econômico já inventado no decorrer dos séculos, me pego lendo a recém divulgada declaração conjunta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil e do Departamento De Agricultura Dos Estados Unidos. O documento expõe logo de início a previsão do aumento de 70% da produção global de alimentos nos próximos 25 anos, estimando um total de aproximadamente nove bilhões de pessoas até 2050 a serem alimentadas. As linhas seguintes do texto encarregam-se de anunciar a união de ambos os países em prol da busca por novas tecnologias, visando primordialmente a necessidade humana por segurança alimentar e nutricional, em um contexto sustentável. Sem dúvida, uma postura que ao momento evoca coerência e responsabilidade, uma vez que vem procurando assumir o compromisso que Brasil e Estados Unidos hoje possuem como maiores produtores mundiais de alimentos.

Garantir uma dieta que vá além da eliminação da fome, capaz de permitir um ganho nutricional relevante para o indivíduo é o principal desafio que tange as diretrizes tomadas pela agenda internacional de cooperação das nações dentro do statos quo. O Brasil encabeça o pioneirismo agrícola científico no desenvolvimento de variedades melhoradas naturalmente, responsáveis por ser uma das chaves, dentre outras no chaveiro que, irá não só alimentar, mas nutrir uma em cada quatro pessoas a mercê de sintomas que vão desde cegueira noturna, anemia, osteoporose e até diarreia, todos indícios de fome oculta.

A inovação inserida na agricultura e na saúde tem seu progresso ocupando espaço em periódicos e expandindo seu apelo, biofortificação é sua alcunha. Trata-se de uma técnica de melhoramento genético convencional, não existindo qualquer ocorrência de processos transgênicos, com tudo se resumindo a uma série de seleções e cruzamentos entre plantas da mesma espécie, originando assim variedades com maiores teores de vitaminas e minerais.

Falar de biofortificação em solo tupiniquim, automaticamente nos enverga para mandiocas, batatas, feijões e tantas outras cultivares presentes na refeição diária, excluindo-se alimentos turísticos ao paladar nacional.

Climas secos acompanhados de áreas inférteis clamam por culturas de potencial agronômico elevado. Adaptabilidade alta é fundamental para o sustento e a condição humanitária mínima permanecer com garantias dentro de uma família piauiense, nordestina, brasileira e sulamericana. Indo mais longe, colocamos ainda nesse cenário, países africanos e asiáticos, localidades onde uma semente germine sustento e qualidade de vida.

Em 2014, alimentos biofortificados pautaram estudos de eficácia, em seguida obtendo resultados animadores ao comprovarem a significativa melhora no estado nutricional dos consumidores avaliados. Mulheres em Ruanda, puderam experimentar o feijão melhorado e conseguir  ter os níveis de ferro aumentados, alimentando não só o organismo como também a capacidade física para o exercício. Na Zâmbia, o milho, rico em pró-vitamina A, beneficiou a visão noturna infantil. A Índia utilizou o milheto biofortificado como fonte de estudo para chegar a conclusão que a cultivar ingerida por crianças em idade escolar, não só erradica a deficiência de ferro em seis meses, como também melhora seus processos cognitivos e a capacidade para atenção na sala de aula.

Salientar o reforço que um alimento carrega para o desenvolvimento de uma comunidade ou indivíduo é uma atitude viciante quando o saldo é imensuravelmente positivo para quem tem pressa em sair de um quadro de insegurança nutricional. Preceitos iluministas tendem a andar lado a lado com nossa motivação científica de levar esclarecimento à turbidez, em convergência com a demanda da sociedade pelo desenvolvimento.

 

Raphael Santos
Jornalista da Rede BioFORT