Biofortificação de alimentos pode beneficiar mais de um milhão e meio de pessoas com deficiência alimentar no Rio Grande do Sul

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De acordo com o último relatório de segurança alimentar (2004-2009) elaborado pelo IBGE, por intermédio de sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), mais de um milhão e meio de pessoas possuem uma dieta de alimentos insuficiente para compor uma qualidade nutricional adequada, se encaixando assim no quadro de insegurança alimentar leve, segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Dentre as alternativas que, operadas em conjunto, ajudariam no combate à deficiência de nutrientes no organismo, está a biofortificação de alimentos.

No Rio Grande do Sul, a taxa de pobreza extrema é de cerca de 2%, dado também apontado pelo PNAD. Quando analisada em valores absolutos, essa porcentagem reflete um número aproximado de 200 mil pessoas, sendo cerca de 100 mil crianças, que acabariam por também se beneficiar da biofortificação de alimentos. “O objetivo deste trabalho no Rio Grande do Sul é que sejam viabilizados produtos biofortificados adaptados para as condições locais, principalmente de arroz, feijão, abóbora, batata-doce e mandioca, que são produtos que já fazem parte da dieta das comunidades tradicionais, facilitando sua aceitação. Para isto está sendo formada uma rede de validação destas tecnologias, composta por agricultores familiares, quilombolas e indígenas, que testarão os produtos em suas propriedades, acompanhados por técnicos da Embrapa e de organizações parceiras como a Emater-RS”, afirma o analista Apes Perera, da Embrapa Clima Temperado.

No Brasil, a Embrapa é responsável por coordenar os projetos com alimentos biofortificados, administrando um extenso grupo, conhecido como Rede BioFORT, cuja liderança é exercida pela pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Marília Nutti.

A partir da técnica de melhoramento convencional (não ocorrência de transgenia), que consiste no cruzamento de plantas da mesma espécie com o objetivo de selecionar aquela com maior quantidade de vitaminas e minerais, a Embrapa vem procurado avançar no combate a fome oculta não só nos estados mais pobres do país, mas também no Rio Grande do Sul, trabalhando com produtos mais ricos em pró-vitamina A, ferro e zinco.

De acordo com pesquisas, os altos níveis de minerais nas sementes e ramas também contribuem para a nutrição da própria planta, o que têm mantido as expectativas quanto ao aumento da produtividade de linhagens biofortificadas. Esse potencial genético aliado a assistência técnica da Embrapa e de instituições parceiras, acaba por provocar um aumento considerável na produção. Experiências de produtores rurais dos estados do Piauí e do Rio de Janeiro têm mostrado, respectivamente, produções de 25 e 17 toneladas por hectare de cultivares como, por exemplo, a batata-doce biofortificada. A média da cultivar convencional de batata-doce é de 8 toneladas por hectare.

A Rede BioFORT, no Brasil, já lançou cultivares de batata-doce, mandioca, feijão, milho e feijão-caupi. A expectativa é que, no futuro, sejam lançadas cultivares de outros produtos biofortificados, como o trigo.

“O primeiro passo é a determinação das concentrações de ferro e de zinco nas variedades de trigo que estão em cultivo no sul do Brasil, para o estabelecimento de um valor de referência. Isto já está sendo feito. Em seguida, partimos para o trabalho de melhoramento, visando à biofortificação de futuras cultivares com elevados teores de ferro e de zinco, o que pode demorar de 8 até 10 anos. Uma vez alcançadas essas cultivares biofortificadas, elas serão cultivadas para a produção de grãos biofortificados, que poderão diminuir a fome oculta em populações carentes e, também, poderão auxiliar na merenda escolar dessas comunidades”, conclui o pesquisador da Embrapa Trigo, Pedro Scheeren.