Mandioca Vitaminada

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Alimentos agrícolas mais ricos em vitaminas e nutrientes dos que os consumidos atualmente, como uma mandioca com 40 vezes mais vitamina A do que as comuns, por exemplo, já estão em testes finais de campo no Instituto Agronômico (IAC) de Campinas.

Também variedades de oito espécies alimentícias – abóbora, arroz, batata-doce, feijão, feijão-fradinho, milho, mandioca e trigo – mais ricas em ferro e zinco e com maior resistência a doenças e mudanças climáticas já estão no mercado ou em fase final de desenvolvimento na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Trata-se de um processo chamado biofortificação de alimentos, realizado por meio do método de melhoramento genético clássico, em que se buscam, cruzando diferentes variedades, plantas com, por exemplo, resistência a doenças, alta produção e boas características nutricionais com mais vitaminas e minerais. É um trabalho lento e demorado, que pode se estender por 10 a 15 anos.

Rede mundial

No caso da Embrapa, o projeto é mais amplo. A empresa participa de uma rede mundial, a HarvestPlus, que agrupa pesquisadores de vários países que trabalham na biofortificação de alimentos. “Utilizando técnicas de melhoramento genético clássico para obter variedades de cultivos com mais nutrientes, a biofortificação foi o meio encontrado pelos cientistas para melhorar a dieta de famílias pobres e dar alternativa de trabalho para pequenos produtores rurais em vários países do mundo”, explica Marília Regini Nutti, líder para o Brasil, América Latina e Caribe do HarvestPlus, e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, com sede no Rio de Janeiro. “O objetivo é a obtenção de alimentos básicos mais nutritivos.”

O HarvestPlus surgiu em 2002 como uma iniciativa do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR, em inglês), com financiamento concedido pela Fundação Bill e Melinda Gates e outros doadores. Hoje o projeto é coordenado pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e pela International Food Policy Research Institute (IFPRI), um instituto fundado em 1975 com o objetivo de encontrar soluções para suprir a necessidade de alimentos nos países em desenvolvimento de maneira sustentável. O HarvestPlus conta com mais de 200 cientistas agrícolas e de nutrição em todo o mundo.

No Brasil, o projeto teve início em 2003, coordenado pela Embrapa e hoje é parte da Rede BioFORT, que congrega mais de 150 profissionais em diferentes áreas do conhecimento em 11 estados. “Por meio dessa rede que a Embrapa criou, interagimos com universidades, centros de pesquisa nacionais e internacionais, associações de produtores, governo, prefeituras e organizações não governamentais”, explica Marília. “O BioFORT tem como objetivo diminuir a desnutrição e garantir maior segurança alimentar, por meio do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente.” São oito produtos agrícolas que estão sendo biofortificados pela Embrapa. A meta é produzir variedades de abóbora e milho com altos teores de carotenoides e outros precursores de vitamina A; arroz, feijão-caupi, trigo e feijão com grande concentração de ferro e zinco (o último também com grande resistência à seca); e mandioca e batata- -doce mais ricas em betacaroteno. “Até o momento, desenvolvemos e lançamos 10 cultivares, dos quais três de mandioca e um de batata-doce com maiores teores de betacaroteno, três de feijão-caupi e três de feijão comum mais ricos em ferro e zinco”, conta Marília. “Demoramos cerca de cinco a seis anos para desenvolver cada um, todos por melhoramento genético convencional, sem transgenia.”

Acervo cultural

O trabalho do IAC e da Embrapa não se limita, no entanto, ao desenvolvimento de novas plantas. As duas instituições atuam também para difundi-las entre os agricultores e, por consequência, para a população. “Os projetos HarvestPlus e BioFORT levam em conta todo processo de alimentação do cidadão, desde o momento em que o alimento é produzido até a mesa do consumidor”, diz Marília. “Com esse intuito, considera e analisa a receptividade dos produtores nas comunidades rurais em relação às novas variedades. Para isso, é importante que elas, além dos ganhos nutricionais, apresentem vantagens agronômicas e comerciais.” Com esse objetivo, a Embrapa trabalha em colaboração com diversos países da América Latina, como, por exemplo, o Panamá e a Colômbia. Também já enviou alguns cultivares para teste de adaptação no Haiti e colabora com os países da África e Ásia por intermédio do HarvestPlus.

Alimentos biofortificados podem funcionar como um instrumento inovador para a melhoria da qualidade de vida da população mais pobre, como foi o caso do cultivar IAC 576-70. “O primeiro segmento a ser focalizado foi o de baixa renda, residente na periferia urbana, originada de áreas rurais, em consequência da migração provocada pela modernização da agricultura, na década de 1970”, diz Teresa. “Essas pessoas trouxeram consigo sua cultura, as sementes e o conhecimento das plantas. Dessas espécies, a mais importante foi a mandioca.” De acordo com Teresa, com isso chegou à periferia das áreas urbanas um grande acervo genético, acompanhado pelo conhecimento popular sobre plantas acumulado por séculos, que, se nada fosse feito, seria rapidamente perdido com o passar das gerações e a integração dos filhos dos migrantes à cultura urbana.

Veja a matéria completa: http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/10/11/mandioca-vitaminada/

Texto: Evanildo da Silveira
Foto: Léo Cunha