Especialistas internacionais em segurança nutricional afirmam ser promissor o trabalho brasileiro de biofortificação

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No último dia da V Reunião de Biofortificação no Brasil, especialistas ligados a instituições de pesquisa com biofortificação puderam avaliar e tecer comentários sobre os trabalhos com cultivares biofortificados, nas diferentes áreas de pesquisa como melhoramento, biofortificação agronômica, nutrição e produtos, transferência de tecnologia e avaliação de impacto. Wolfgang Pfeiffer (International Tropical Agriculture Center / HarvestPlus), Ross Welch (United States Department of Agriculture / Agricultural Research Service), Erick Boy (HarvestPlus), Yery Mendoza (Nestle Research Center), Jere Haas (Universidade de Cornell), Carolina Gonzalez (International Tropical Agriculture Center), Manfred Zeller (HarvestPlus), Delia Amaya (International Union of Food Science and Technology), Meike Andersson (International Tropical Agriculture Center / HarvestPlus), Eliab Simpungwe (HarvestPlus) e Parminder Virk (International Crops Research Institute for the Semi-Arid Tropics) apontaram para os resultados já conquistados, principalmente na criação de demanda das variedades biofortificadas e na ampliação da atividades, assim como de parcerias, na região Nordeste do pais. Dentre os aspectos a serem aprimorados, estão a estimulação cada vez mais da compra voluntária de sementes e da formação, ainda inédita, de políticas públicas e sociais relacionadas a biofortificação.

Yery Mendoza, pesquisador do Centro de Pesquisa da Nestlê, na Suíça, encara a biofortificação como uma das alternativas sustentáveis e saudáveis para suprir a demanda ocasionada pelo crescimento populacional. “Para os alimentos biofortificados atingirem uma produção em escala comercial é questão de tempo. A Nestlê, o setor privado em geral, irá desempenhar o papel de levar o alimento para a mesa das pessoas, criando canais seguros para a comercialização desses produtos”. Conclui o Dr. Mendoza.

A pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Marília Nutti, acredita que nos encontros com as equipes dos programas de biofortificação de outros países, é fundamental poder ouvir experiências de sucesso, como o caso de Ruanda, onde aproximadamente meio milhão de agricultores são responsáveis por produzir variedades de feijões ricos em ferro. Ela que também é líder do programa de biofortificação brasileiro (Rede BioFORT), afirma ser de extrema importância os resultados positivos alcançados com os estudos de eficácia. “O Dr. Erick Boy mostrou diversos exemplos de pesquisas comprovando os benefícios dessas variedades melhoradas tradicionalmente. A ingestão de batata-doce quase dobrou o nível de vitamina A no organismo de indivíduos em alguns países, sem falar na redução da prevalência e duração de diarreia em crianças com deficiência desse micronutriente, fato ocorrido em Moçambique.”

No dia 20 de outubro, alguns especialistas do evento formaram uma comissão estrangeira, que junto dos representantes da Rede BioFORT, se encontraram com o Prefeito de Magé, Nestor Vidal, no Rio de Janeiro, para um dia de campo no município, onde puderam observar uma unidade demonstrativa com variedades biofortificadas de batata-doce, milho, feijão e mandioca. Houve espaço para a troca de experiência com agricultores locais e explicações do trabalho realizado com a Secretaria de Agricultura, e das próximas ações que devem incluir a Secretaria de Educação, como a incorporação desses alimentos na merenda escolar.

Mais sobre a Rede BioFORT

A Rede BioFORT é responsável por englobar todos os projetos de biofortificação de alimentos no Brasil, sendo atualmente coordenada pela Embrapa. Dentre suas parcerias, está a principal, feita com a instituição de pesquisa HarvestPlus, uma aliança de instituições de pesquisa que atuam na América Latina, África e Ásia com recursos financeiros da Fundação Bill e Melinda Gates, Banco Mundial e agências internacionais de desenvolvimento. A Rede BioFORT conta ainda com projetos financiados pela Embrapa, CNPq, e diversas fundações estaduais de suporte a pesquisa. A partir da utilização da técnica de melhoramento genético convencional, é selecionado e aumentado o conteúdo de micronutrientes dos seguintes cultivares: arroz, feijão, batata-doce, mandioca, milho, feijão-caupi, abóbora e trigo. Novas culturas são geradas contendo maiores teores de pró-vitamina A, ferro e zinco, fortalecendo assim o combate à deficiência de micronutrientes no organismo humano, a popular fome oculta, que dentre as doenças provocadas, estão a anemia e a cegueira noturna. A Rede BioFORT não trabalha com alimentos transgênicos.

Mais informações sobre o HarvestPlus

O HarvestPlus conduz um esforço global para a melhoria da nutrição vitamínica e mineral, assim como da saúde pública, através do cultivo e da disseminação de culturas de alimentos da dieta básica ricos em vitaminas e minerais. Trabalhamos com diversos parceiros em mais de 40 países. O HarvestPlus faz parte do Programa de Pesquisa em Agricultura para a Nutrição e Saúde do CGIAR (A4NH). O CGIAR é uma parceria global de pesquisa em agricultura para um futuro alimentar seguro. As suas atividades científicas são realizadas pelos seus 15 centros de pesquisa, em colaboração com centenas de organizações parceiras. O programa HarvestPlus é coordenado por duas dessas organizações: o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e o Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI).